Francisco Morato

AUDIÊNCIA DISCUTE DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE PIRACICABA

A deputada Professora Bebel promoveu audiência pública, nesta terça-feira, 27/8, para discutir a defesa do patrimônio histórico e cultural de Piracicaba. O debate teve o objetivo de tratar …

ícone relógio27/08/2024 às 17:14:11- atualizado em  
AUDIÊNCIA DISCUTE DEFESA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE PIRACICABA

A deputada Professora Bebel promoveu audiência pública, nesta terça-feira, 27/8, para discutir a defesa do patrimônio histórico e cultural de Piracicaba. O debate teve o objetivo de tratar da autorização para a construção do empreendimento imobiliário Boulevard Boyes, numa área da antiga fábrica de tecidos Boyle, em frente ao Rio Piracicaba, cujas edificações remanescentes serão demolidas para a construção do empreendimento.

A parlamentar salientou a importância da valorização e preservação dos bens materiais ou naturais que têm importância na história das comunidades. “Sou nascida em Piracicba, piracicabana da gema, do distrito de Artemis, onde temos um patrimônio cultural, que é estação ferroviária, com linhas férreas e uma ponte. O patrimônio histórico de Piracicaba faz parte da sustentabilidade social, ambiental e histórica, que a gente tem de preservar para que as próximas gerações possam fazer uso e também defendê-lo no futuro.”

O empreendimento imobiliário no local onde funcionou a antiga fábrica de tecidos Boyes, no Complexo Beira Rio, teve autorização concedida pela administração municipal. O projeto prevê a construção de um centro comercial e de quatro torres residenciais na orla do rio Piracicaba, em área onde se concentram outras edificações históricas, como o Engenho Central e um conjunto arquitetônico que remonta ao século XIX.

Pablo Carajol Delvaje, historiador, membro do mandato coletivo a Cidade é Sua e coordenador do Movimento Salve a Boyle, disse que o projeto do empreendimento imobiliário coloca a cidade de Piracicaba numa encruzilhada, que significa a descaracterização e a desvalorização dos seus aspectos constitutivos. Ele sublinha que a cidade, que completou neste ano 257 anos de existência, constituiu seu patrimônio histórico no decorrer das décadas e que esse patrimônio é parte essencial de sua identidade: a lama da cidade.

Segundo Delvaje, Piracicaba é uma cidade bastante calcada na sua história, nas suas tradições e na preservação e valorização dessas tradições, tanto no compõem o patrimônio material quanto imaterial. “Temos muitos registros de antigas civilizações indígenas como também um rico patrimônio da cultura imaterial, como o samba de lenço, o batuque de umbigada, a festa do divino, a cultura caipira, o cururu, entre tantas outras manifestações que nasceram na orla do rio Piracicaba e são extremamente vitais para a cidade e para o Brasil. Por isso, é fundamental compreender quais são os riscos que o projeto Boulevard Boyle coloca para o funcionamento e para essa vocação da cidade.”

Movimentos da sociedade civil, ambientalistas, professores, arquitetos, conselheiros estão promovendo diversas ações contra a construção e instalação do empreendimento imobiliário e pedindo o tombamento de toda área do Complexo Beira Rio, na região da Rua do Porto de Piracicaba, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e ao Condephaat.

Os argumentos contra o projeto são muitos e diversos. O primeiro deles é que o empreendimento vai desconfigurar e descaracterizar toda a região da Rua do Porto, uma região histórica e amplamente visitada de Piracicaba, onde se concentram vários elementos do património histórico da cidade e proximidade com o Parque do Mirante, Museu da Água e diversos espaços públicos e históricos.

O projeto de construção de 441 unidades residenciais, distribuídas em quatro torres com 25 a 29 pavimentos, apresenta questões críticas e impactos de uma magnitude que pode desencadear a descaracterização significativa da paisagem local.

Conforme Delvaje, o empreendimento significa descaracterização do ambiente, a transformação em local turístico e desafios de design e integração urbana. “Essa descaracterização pode significar a perda da identidade histórica e cultural da região, afetando sua atratividade como destino turístico.” Ele destaca ainda o temor quanto ao Impactos socioeconômicos negativos, como a desvalorização do turismo e os consequentes prejuízos causados à economia local.

Devem ser considerados ainda os impactos no trânsito, com o sobrecarregamento do sistema viário da região e as dificuldades que serão impostas ao acesso da população e de turistas à região. Outro aspecto a ser observado é a verticalização proposta no projeto. A altura dos edifícios vai superar amplamente o gabarito dos edifícios do entorno, incluindo o icônico Engenho Central. As torres terão uma altura cinco vezes maior que a altura dos barracões gêmeos do Engenho Central, fundado em 1881 e considerado o marco zero da cidade, em razão de seu papel histórico no desenvolvimento econômico.

As quatro torres, com cerca de 90 metros, inevitavelmente, causarão impactos à paisagem histórica circundante. Dominarão a vista, impactando os elementos históricos e naturais da região. Além disso, promoverão um extenso sombreamento sobre a área circundante e nos locais históricos do seu entorno, provocando escassez de luz natural, afetando a visibilidade dos visitantes e a própria conservação desses patrimônios.

Em síntese, o projeto imobiliário está inserido em uma área tombada e próximo a vários outros bens culturais protegidos, correndo o risco de descaracterizar e eclipsar esse patrimônio histórico. O projeto colocar em risco referências simbólicas que são a essência e a alma da cidade de Piracicaba e pode provocar o afastamento desse bens culturais das pessoas em geral, especialmente da população mais pobre, que serão alijadas de frequentar os espaços tomados pelo empreendimento privado, caso o projeto seja executado.

A audiência pública contou com a participação de Carolina de Melo, arquiteta, urbanista e integrante do movimento Salve a Boyes e do Coletivo Panhanguas; Danilo Nunes, superintendente do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Fátima Scarpari, arquiteta, urbanista e coordenadora do Movimento Salve a Boyes; Juan Sebastiane, ex-verador, ex-secretário de Meio Ambiente de Piracicaba e presidente do AMAPIRA – Associação do Amigos da Cidadania e do Meio Ambiente de Piracicaba; Wilson Levi, conselheiro do Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo; Andreia Tourinho, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo no Condephaat; Bartira Mendes, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo; e Alessandro Azevedo, coordenador do Ministério da Cultura.

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